Foragem / Descompressão da Cabeça Femoral
- Andre Luiz Pellacani França
- 2 de mai. de 2022
- 2 min de leitura
Osteonecrose da Cabeça Femoral (ONCF) é uma patologia que ocorre pelo dano ou interrupção de parte do fluxo sanguíneo da cabeça femoral, levando à necrose das células ósseas, ao subsequente processo de reparo tecidual dos componentes ósseos e medulares e às alterações estruturais da cabeça femoral, que culminam com o colapso e deformidade desta. Tal consequência se traduz em dor articular e comprometimento funcional do quadril. Por se tratar de um processo evolutivo e irreversível, existem poucos tratamentos capazes de modificar o curso natural da doença. Assim, a busca por um tratamento minimamente invasivo, seguro e eficaz tem se tornado o objetivo dos grandes centros ortopédicos ao redor do globo.
A Foragem ou Descompressão da Cabeça Femoral surgiu como alternativa de tratamento nos anos 60, descrita inicialmente por Paul Ficat and Jacques Arlet, inadvertidamente durante uma biópsia óssea, onde permitiu a melhoria sintomática das queixas dolorosas após o procedimento. Posteriormente foi verificado que a descompressão da lesão permite a redução da pressão intra-óssea, elimina zonas escleróticas que atrapalham o processo de reparo do tecido necrótico, estimula a formação de novos vasos sanguíneos no trajeto do túnel ósseo, aumenta a capacidade de neoformação óssea e, por fim, atrasa a progressão da extensão e da evolução da osteonecrose.


O procedimento consiste na confecção de um ou múltiplos túneis ósseos, em geral, a partir da região trocantérica em direção à cabeça femoral, buscando-se direcioná-los à lesão, para que possa se retirar o tecido necrótico. Tais túneis podem ser preenchidos por material biológico para auxiliar na sustentação mecânica da cartilagem articular da cabeça femoral.
Com a evolução da técnica, novas variações foram descritas, visando a melhoria da sua eficácia: múltiplas perfurações em detrimento de uma única, uso de lâminas expansíveis, associação com enxerto ósseo autólogo, com enxerto vascularizado, substitutos ósseos, associação com produtos ortobiológicos, uso de terapia celular e auxílio da artroscopia para visualização da lesão.

Os estudos mais atuais demonstram que a Foragem possibilita uma maior sobrevida da cabeça femoral nas lesões de menor diâmetro e mais mediais. Adicionalmente, a técnica combinada aos procedimentos regenerativos também aumentam as taxas de sucesso e de sobrevida, apresentando segurança e sendo mais efetivas naqueles casos de identificação precoce (estágio pré-colapso). Atualmente a utilização de células tronco mesenquimais medulares (BMA) associado ao enxerto ósseo autólogo tem demonstrado ótimos resultados, sendo altamente reprodutível e de fácil manuseio. A artroscopia de quadril entrou como complementação técnica deste procedimento, facilitando a identificação da lesão pela visualização intra-articular direta e auxiliando na correção das lesões articulares frequentemente associadas, no mesmo tempo cirúrgico.
Em suma, trata-se de um procedimento simples, de baixo grau de invasividade, que pode trazer alívio sintomático quase imediato e aumentar a sobrevida da cabeça femoral, retardando o tratamento definitivo com a Artroplastia Total do Quadril, desfecho comum nesta patologia. Obviamente, os melhores resultados são obtidos quando o procedimento tem sua indicação bem fundamentada por cirurgiões experientes.
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